sábado, 29 de novembro de 2014

Cientistas transformam fezes e urina em combustível para foguete

http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2014/11/cientistas-transformam-fezes-e-urina-em-combustivel-para-foguete.html

29/11/2014 06h00 - Atualizado em 29/11/2014 06h00

Cientistas transformam fezes e urina em combustível para foguete

Nasa encomendou projeto pensando em missões de longo prazo.
Técnica permite que dejetos de astronautas sirvam para abastecer foguete.

Do G1, em São Paulo
biodigestor anaeróbico usado para produzir metano a partir de fezes e urina (Foto: UF/IFAS Communications/Divulgação)Pesquisador Pratap Pullammanappallil posa em seu laboratório com o
biodigestor anaeróbico usado para produzir metano a partir de fezes e urina
(Foto: UF/IFAS Communications/Divulgação)


















A pedido da Nasa, cientistas da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, desenvolveram um método de transformar fezes e urina em combustível de foguete.
A agência espacial americana fez o pedido pensando em missões de longo prazo, nas quais seria difícil transportar de volta para a Terra um volume grande de dejetos humanos. Atualmente, esse tipo de lixo gerado no espaço é armazendado em contêineres que, em seguida, são transportados em veículos espaciais de carga que queimam quando atravessam de volta para a atmosfera terrestre.
Foguete decola carregando satélite meteorológico japonês. (Foto: Kyodo News / Via AP Photo)Foguete decola carregando satélite meteorológico
japonês, em outubro: dejetos humanos podem 
produzir combustível para foguetes, segundo
pesquisa (Foto: Kyodo News / Via AP Photo)
Um projeto da Nasa lançado em 2006 previa a construção de uma instalação habitada na superfície da Lua entre 2019 e 2024. Foi nesse contexto que a agência contatou a Universidade da Flórida para verificar o que poderia ser feito com as fezes e urina dos astronautas que participassem da missão, já que deixá-las em solo lunar não seria uma alternativa.
"Estávamos tentando descobrir quanto metano pode ser produzido a partir de restos de comida, embalagens de comida e dejetos humanos", conta Pratap Pullammanappallil, professor de engenharia agrícola e biológica da Universidade da Flórida.
"A ideia era ver se poderíamos produzir combustível o suficiente para lançar foguetes e não carregar todo o combustível e seu peso a partir da Terra para a viagem de volta. O metano pode ser usado como combustível de foguetes. É possível produzir metano o suficiente para voltar da Lua."
Para testar a possibilidade, os cientistas receberam da Nasa um material que simula dejetos humanos, restos de comida, toalhas, roupas e embalagens, segundo Pullammanappallil.
Eles descobriram que, a partir desse material, poderiam produzir 290 litros de metano por tripulação por dia. O tempo para a geração desse gás foi de uma semana. Para conseguir isso, a equipe de cientistas criou um biodigestor anaeróbico que mata os patógenos dos dejetos humanos e produz uma mistura de metano com dióxido de carbono.
Segundo Pullammanappallil, os resultados podem ser aplicados na Terra também. O combustível feito de fezes pode ser usado para aquecimento, geração de eletricidade ou transporte. As descobertas foram publicadas na revista científica "Advences in Space Research".

Ex-gigante da NBA, Shaq vira "anão" ao lado de homem mais alto da história

http://globoesporte.globo.com/basquete/noticia/2014/11/ex-gigante-da-nba-shaq-vira-anao-ao-lado-de-homem-mais-alto-da-historia.html

29/11/2014 17h41 - Atualizado em 29/11/2014 17h41

Ex-gigante da NBA, Shaq vira "anão" ao lado de homem mais alto da história

Ex-jogador do Los Angeles Lakers, de 2,16m e 150kg, posa ao lado de estátua de Robert Wadlow, homem mais alto da história com 2,72m e reconhecido pelo Guinness

Por Las Vegas

Com seus 2,16m e 150kg, Shaquille O'Neal passou a carreira inteira fazendo seus rivais se sentirem minúsculos. Uma das lendas da história da NBA, o ex-jogador, porém, viveu o outro lado da moeda ao menos por um dia. Em um passeio por um museu, Shaq tirou foto ao lado da perfeita reprodução do homem mais alto do mundo. Ao seu lado, o pivô pareceu apenas mais um, batendo apenas no peito do gigante.

Shaquille O'Neal posa ao lado da estátua do homem mais alto da história (Foto: Reprodução/Instagram)
Shaquille O'Neal posa ao lado da estátua do homem mais alto da história (Foto: Reprodução/Instagram)


Seu nome é Robert Wadlow e ele tinha 2,72m quando morreu. Segundo o Livro dos Recordes, Robert foi o homem mais alto da história. Ele nasceu em Alton, no Illinois, Estados Unidos, morreu aos 22 anos, em 1940. Quando faleceu, Wadlow pesava 199kg. Ele sofria de gigantismo e tinha uma quantidade expressiva do hormônio humano do crescimento. Com dois anos, Robert já tinha 1,37m. Aos cinco, media 1,69m. Ele atingiu os 2,00m antes dos 11 anos.

- Eu e o homem mais alto do mundo. Eu ainda poderia ter feito 40 pontos, com 19 rebotes e cinco tocos e ainda poderia ter perdido outros 22 lances livres - brincou Shaquille O'Neal posando ao lado da estátua do gigante.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Cientistas captam pela 1ª vez imagens de ‘diabo negro do mar’

http://g1.globo.com/natureza/noticia/2014/11/cientistas-captam-pela-1a-vez-imagens-de-diabo-negro-do-mar.html

25/11/2014 17h13 - Atualizado em 25/11/2014 17h18

Cientistas captam pela 1ª vez imagens de ‘diabo negro do mar’

Peixe, que tem dentes super afiados e antena de luz para atrair presas, foi fotografado por robô a quase 3 mil metros de profundidade na costa da Califórnia.

Da BBC
O exemplar filmado é uma fêmea de 9c m que estava a 600 m de profundidade  (Foto: BBC)O exemplar filmado é uma fêmea de 9c m que estava a 600 m de
profundidade (Foto: BBC)


















Cientistas do Instituto de Pesquisa do Aquário da Baía de Monterrey, na Califórnia, conseguiram filmar um exemplar do misterioso "diabo negro do mar", uma espécie de peixe abissal conhecida pelo nome científico Melanocetus johnsonii.
O peixe foi filmado em Monterrey, na Califórnia  (Foto: BBC)O peixe foi filmado em Monterrey, na Califórnia
(Foto: BBC)
Segundo os pesquisadores da instituição, esta foi a primeira vez que este estranho e pequeno animal foi filmado em seu habitat natural. O peixe pode chegar a viver em uma profundidade de até 3 mil metros.
O exemplar filmado é uma fêmea de 9 centímetros que se encontrava a cerca de 600 metros da profundidade no cânion submarino de Monterrey, na costa californiana.
As imagens foram gravadas por um veículo operado remotamente batizado de Don Ricketts.
O "diabo negro do mar" tem uma antena que se ilumina graças a bactérias bioluminescentes, o que o ajuda a atrair suas presas. Elas acabam atraídas para suas temidas mandíbulas, repletas de dentes afiados.
As fêmeas podem medir até 20 centímetros, enquanto o macho é dez vezes menor e não pode sobreviver sozinho - ele se acopla à companheira como um parasita.
Para os que assistiram ao filme Procurando Nemo, da Disney/Pixar, este peixe é conhecido: ele aparece em uma cena perseguindo os protagonistas do desenho animado.

Documentos e manuscritos de Charles Darwin estão disponíveis na internet

http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2014/11/documentos-e-manuscritos-de-charles-darwin-estao-disponiveis-na-internet.html

Documentos e manuscritos de Charles Darwin estão disponíveis na internet


Equipe de museu faz parceria com cientistas para divulgar obras que antecederam 'A Origem das Espécies'

25/11/2014 - 12H11/ ATUALIZADO 12H1111 POR RENNAN A. JULIO

Desenhos feitos pelo cientista durante sua pesquisa sobre seleção natural (Foto: Reprodução)

Em 2014, a icônica “A Origem das Espécies” de Charles Darwin completou 155 anos desde sua publicação. No dia 24 de novembro de 1859, Charles Darwin divulgou o seu estudo sobre a evolução animal e sobre a seleção natural. Pensando no tamanho de sua importância, pesquisadores do American Museum of Natural History e do Darwin Manuscripts Project decidiram digitalizar e disponibilizar todos os escritos do cientista.
Trabalhando desde 2007 nisso, a equipe garante que 50% dos documentos já podem ser encontrados na rede. Em declaração oficial, o museu disse: “Os mais de 16 mil documentos acessíveis no site cobrem um período de 25 anos da história de Darwin. Essa foi a época que ele se convenceu dos conceitos de evolução, seleção natural, adaptação das espécies, árvores genealógicas e reuniu tudo em sua obra principal”.
Escritos do autor podem ser encontrados na rede (Foto: Reprodução)
No site, você poderá encontrar algumas curiosidades muito interessantes. Desenhos feitos em folhas; a primeira vez que “seleção natural” foi usada pela ciência; o primeiro título da publicação Origem das Espécies e muito mais. A equipe pretende finalizar o projeto até junho de 2015.
O time de pesquisa afirma: “O trabalho que Charles Darwin teve para escrever sua principal obra foi muito maior do que sentar com papel e caneta em uma mesa. O livro foi o fruto maduro de um prolongado processo de exploração científica, criatividade e interesse em evolução. Nós queremos mostrar todos esses manuscritos, queremos manter os dados massivos da pesquisa de Darwin vivos”.

domingo, 23 de novembro de 2014

Novo estudo revela que 80 milhões de bactérias são compartilhadas por beijo

http://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2014/11/novo-estudo-revela-que-80-milhoes-de-bacterias-sao-compartilhadas-por-beijo.html

Novo estudo revela que 80 milhões de bactérias são compartilhadas por beijo


Cuidado ao sair beijando por aí... Muitas bactérias serão trocadas!


18/11/2014 - 17H11/ ATUALIZADO 17H1111 / POR RENNAN A. JULIO

Salada mista? Haja bactéria num beijo só! (Foto: Reprodução)
Realizado por pesquisadores na Holanda, novo estudo mostra que a cada beijo de dez segundos mais de 80 milhões de bactérias são transferidas. O trabalhotambém sugere que casais que se beijam nove vezes por dia podem criar comunidades gigantescas de bactérias na região bucal.
Estima-se que existem ao menos 700 variedades desses microrganismos na área da boca. Nessa pesquisa, os cientistas sugerem que as pessoas próximas a nós são as responsáveis por tal quantidade. A equipe da Netherlands Organisation for Applied Scientific Research(TNO) trabalhou com 21 casais para chegar ao número.
Os participantes tiveram que responder questões sobre a quantidade e a duração dos beijos dados com os seus companheiros. O time então retirou algumas amostras das bocas do grupo para pesquisas relacionadas ao número de micróbios vivendo na área.
Publicado no Microbiome, o estudo mostrou que os casais “beijoqueiros” – mais de nove vezes por dia – acabam adquirindo as mesmas colônias de bactérias. Além disso, perceberam que cerca de 80 milhões de microrganismos são “trocados” ao longo de um beijo.
“Beijos íntimos que envolvem contato de língua e saliva fazem parte de um comportamento único dos humanos e que está presente em 90% das culturas conhecidas”, disse Remco Kort, autor do projeto. O cientista também comentou sobre a quantidade de bactérias: “Nós queríamos descobrir a quantidade de micróbios trocada pelos parceiros durante o beijo. E aí conseguimos perceber que quanto mais se beijam, mais os casais são ‘parecidos”.

Stephen Hawking: 'Assistir ao filme me deu a oportunidade de refletir sobre minha própria vida'

http://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2014/11/assistir-ao-filme-me-deu-oportunidade-de-refletir-sobre-minha-propria-vida.html

'Assistir ao filme me deu a oportunidade de refletir sobre minha própria vida'

Stephen Hawking disse que ator Eddie Redmayne o interpretou muito bem em 'A Teoria de Tudo'


18/11/2014 - 18H11/ ATUALIZADO 18H1111 / POR REDAÇÃO GALILEU


Stephen Hawking acredita em nova maneira para o mundo acabar (Foto: Getty Images)

Ofilme A Teoria de Tudo, que conta a trajetória do brilhante físico Stephen Hawking, chega aos cinemas só no dia 22 de janeiro. Agora temos mais um motivo para ficar ansiosos: parece que Hawking já teve a oportunidade de assistir ao filme sobre sua vida, e o melhor de tudo - ele aprovou! Em um belo postveiculado hoje em sua página do Facebook, o físico elogiou a atuação do ator Eddie Redmayne: "às vezes, eu pensava que ele era eu", disse.
Confira abaixo a íntegra do comentário de Stephen Hawking:
Eu achei que Eddie Redmayne me retratou muito bem no filme 'A Teoria de Tudo'. Ele conviveu com portadores de ELA para que pudesse ser autêntico. Às vezes, eu pensava que ele era eu.
Assistir ao filme me deu a oportunidade de refletir sobre minha própria vida. Embora esteja severamente debilitado, fui bem sucedido em meu trabalho científico. Viajo muito e estive na Antártida e na Ilha de Páscoa, abaixo em um submarino e acima em um voo de gravidade zero. Um dia, espero ir ao espaço.
Fui privilegiado por ganhar algum entendimento através do meu trabalho sobre a forma como o universo opera. Mas este seria certamente um universo vazio sem as pessoas que amo. -SH

Nação sufocada: taxas de suicídio de indígenas são até 20 vezes maiores que na população geral

http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2014/320/nacao-sufocada

Nação sufocada

Dados sobre suicídio no país escondem realidade ignorada: indígenas se matam em taxas até 20 vezes superiores às da população geral.
Por: Sofia Moutinho
Publicado em 20/11/2014 | Atualizado em 20/11/2014
Nação sufocada
No último censo, os índios representavam apenas 0,4% da população do país e respondiam por 1% do total de suicídios: duas vezes e meia a mais que o esperado, se considerada sua participação demográfica. (foto: Brasil de Fato/ Flickr – CC BY-NC-AS 2.0)
L. G., 21 anos, encontrado morto, enforcado com o cabo de energia de um rádio. A. L., 13 anos, descoberto pelos pais, pendurado pelo pescoço em uma árvore na beira da estrada. M. S., 19 anos, usou um fio de náilon para se asfixiar. Histórias parecidas que, além do final trágico, têm em comum o fato de que as vítimas eram todos jovens indígenas brasileiros.
Das diversas mazelas sociais do país, o suicídio não é uma das que se destacam. Em comparação com outros países, as mortes autoprovocadas por aqui são pouco comuns: cerca de cinco pessoas em 100 mil terminam a vida desse modo – bem menos do que a taxa de 30 por 100 mil de países como Lituânia e Coreia do Sul. No entanto, entre indígenas, o suicídio é bem mais recorrente.
Segundo o último censo, os índios representam apenas 0,4% da população do país. Mas respondem por 1% do total de suicídios, duas vezes e meia a mais do que o esperado, se considerada a sua participação demográfica.
Os números alarmantes são alavancados por alguns focos. Os suicídios indígenas ocorrem, sobretudo, no Norte e no Centro-oeste do país, em regiões marcadas por miséria e conflitos de terra
Os números alarmantes são alavancados por alguns focos. Os suicídios indígenas ocorrem, sobretudo, no Norte e no Centro-oeste do país, em regiões marcadas por miséria e conflitos de terra. No Mato Grosso do Sul, onde 3% dos habitantes são indígenas, segundo o censo, 20% dos suicídios dos últimos 10 anos foram nesse grupo. Só no ano passado, de acordo com dados do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei/MS), órgão de saúde instalado nas aldeias, foram registrados no estado 73 suicídios de índios contra 18 de não índios.
A maioria dos casos do Mato Grosso do Sul se dá entre os guaranis-caiovás, segundo maior grupo indígena do país. Ainda segundo o Dsei/MS, entre 1986 e 1997 foram registrados 244 suicídios nessa etnia. De 2000 a 2013, o número praticamente triplicou, chegando a 650 mortes. As taxas anuais de suicídios ao longo desse período variaram entre 75 e 90 casos por 100 mil habitantes – até 18 vezes o índice nacional.

Confira aqui um mapa interativo sobre os suicídios indígenas no Brasil (1996-2012)

Para especialistas, o elevado e crescente número de suicídios reflete as situações de conflito vividas pelos guaranis-caiovás desde o contato com os colonizadores. Os guaranis ocupavam um vasto território na América pré-colombiana, que incluía o atual Paraguai e o sul do Brasil. Com a chegada de espanhóis e portugueses, foram escravizados, viram suas terras disputadas e foram catequizados pelos jesuítas. 
No início do século 20, empresas de erva-mate trouxeram funcionários para sua área de vida e usaram mão de obra indígena. A partir de então, os guaranis perderam suas terras, sistematicamente, para o governo e os empresários. Entre 1915 e 1923, o antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) demarcou oito reservas no Mato Grosso do Sul para onde diferentes aldeias foram obrigadas a migrar.
“O suicídio é um ato expressivo e os picos dessa prática entre os guaranis estão associados a um contexto social que não pode ser ignorado, expressam o desgosto e a humilhação com a usurpação de suas terras, mostram o silêncio a que são submetidos”, afirma o antropólogo Miguel V. Foti, ex-funcionário da Fundação Nacional do Índio (Funai) que estudou os guaranis e conviveu com eles. “A questão guarani é escandalosa; é uma das maiores nações indígenas, mas a política em relação a esse e a muitos outros povos é sinistra, de uma violência não explícita, marcada pela omissão e pela protelação.”
Os guaranis-caiovás pleiteiam na Funai a demarcação de pelo menos nove áreas que consideram sagradas, as tekohas. Embora o órgão tenha assinado em 2007 um termo de compromisso, os estudos necessários à demarcação não foram concluídos. Por isso, não há estimativa dos territórios hoje ocupados por fazendas de soja, cana e gado e que podem um dia se tornar indígenas.
A questão da terra para os guaranis-caiovás vai além da mera reivindicação por espaço. Ela tem uma dimensão sagrada que não pode ser menosprezada 
A questão da terra para os guaranis-caiovás vai além da mera reivindicação por espaço. O guarani-caiová Tonico Benites, professor da Universidade Federal da Grande Dourados e primeiro indígena a se formar em antropologia no país, explica que o território tem, para seu povo, uma dimensão sagrada que não pode ser menosprezada. 
“Para nós, a terra é composta de seres invisíveis, guardiões que dão as frutas, as plantas, a comida”, conta. “Temos que respeitar esses seres, por isso plantamos por três ou quatro anos num local e depois deixamos a terra descansar. A terra é parte da família, cada comunidade pertence a uma terra. As reservas criadas pelos brancos não são a terra à qual pertencemos, são habitadas por seres malignos e não há espaço para plantar do nosso modo.”
Além das oito reservas criadas no início do século 20, que juntas somam cerca de 180 km2, os guaranis-caiovás contam com a Terra Indígena de Dourados (MS), criada em 1917 e só homologada em 1965. Essa reserva, cortada pela rodovia MS-156, tem 347 km2 e ali vivem 14 mil guaranis-caiovás e terenas – uma densidade de 3,4 pessoas por metro quadrado. É flagrante a diferença em relação a outros grupos: no Pará, os caiapós dispõem, na Terra Indígena Baú, de uma área 44 vezes maior (15.470 km2) para uma população 74 vezes menor (188 índios).
“Em Dourados, a miséria é muito grande, a terra não oferece mais nada e as famílias têm que mendigar comida na cidade”, conta Benites. “Na reserva, há disputa por espaço, por comida, por uma bica de água. As pessoas perdem a dignidade e o vínculo com a sua terra e isso leva, muitas vezes, à tristeza e ao suicídio.”

Você leu apenas o início da matéria publicada na CH 320. Clique aqui para acessar uma versão parcial da revista e ler o texto completo.

Sofia Moutinho
Ciência Hoje/ RJ 

Conversão promissora de células da glia em neurônios funcionais

http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2014/11/conversao-promissora

Conversão promissora

Cientistas transformam células neurais de suporte e nutrição em neurônios ativos em região lesionada do cérebro de camundongos responsável pelos pensamentos mais complexos. A experiência abre caminho para futuras terapias para danos cerebrais hoje sem cura.
Por: Sofia Moutinho
Publicado em 20/11/2014 | Atualizado em 22/11/2014
Conversão promissora
Experimento converteu glias em neurônios funcionais no cortex lesionado de camundongos. (foto: Freeimages/ gerard78)
Até pouco mais de uma década atrás, acreditava-se que os neurônios não se regeneravam, que depois da perda de uma célula, uma nova não brotaria no cérebro para substituí-la. Hoje se sabe que isso não é verdade. Algumas regiões do cérebro têm essa capacidade de reparação, mas não uma das mais importantes: o córtex, a área responsável pelos pensamentos mais complexos. Um novo estudo, no entanto, conseguiu criar novos neurônios nessa área e abre caminho para futuras terapias para lesões cerebrais.
O grupo, de cientistas da Alemanha e da França, transformou um tipo específico de células neurais, que compõem a glia, do córtex lesionado de camundongos em neurônios funcionais. A glia é formada por células que dão suporte e interferem na função dos neurônios desde a sua nutrição até a transmissão de impulsos nervosos. São muito abundantes e, ao contrário dos neurônios, não estabelecem sinapses, as conexões que o cérebro usa para transmitir informações. A sua transformação em neurônios não é novidade, mas esta é a primeira vez que o processo é realizado no córtex de animais vivos com provas diretas de que as novas células de fato se originaram da glia.
A conversão foi obtida com o uso de um retrovírus geneticamente modificado e dois fatores de transcrição, o Sox 2 e o Ascl1. As duas moléculas são proteínas que têm a capacidade de se ligar ao DNA e controlá-lo de modo que a célula retorne a um estágio de pluripotência – o que significa que ela passa a ter a potencialidade de se transformar em qualquer outro tecido.
Abreu: “É algo ainda muito inicial, mas que abre uma porta enorme para possibilidades terapêuticas”
Os cientistas inseriram as duas proteínas no vírus e o programaram geneticamente para infectar a glia. O vírus foi injetado no cérebro de camundongos, alguns saudáveis e outros danificados para a pesquisa. Nos animais saudáveis, não houve efeito. Já nos que apresentavam lesão cerebral, os cientistas observaram o surgimento de neurônios. Na presença de uma inflamação causada pela lesão, a glia infectada, que se tornou pluripotente, deu origem às novas células. O estudo foi publicado esta semana no periódico Cell Reports.
“Em uma situação típica de lesão no córtex, o que ocorre é a formação de uma cicatriz no local e não regeneração”, explica o neurobiologista brasileiro José Garcia Abreu, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Em uma lesão, prevalece o recrutamento de células do sistema imune, como os macrófagos do cérebro (a microglia) e os astrócitos, que vão iniciar a cicatrização, que, geralmente, implica em um déficit cognitivo por causa da perda de neurônios no local afetado.”
Casos famosos de lesões cerebrais são o do jogador de futebol paraguaio Salvador Cabañas e do ator brasileiro Gerson Brenner, que levaram ambos um tiro na cabeça que afetou o córtex. Abreu explica que o experimento é uma grande esperança para pacientes como esses. “É algo ainda muito inicial, mas que abre uma porta enorme para possibilidades terapêuticas”, aposta.
No entanto, a estratégia de conversão da glia cortical em neurônios ainda precisaria de muitos aperfeiçoamentos antes de chegar à aplicação clínica. O próprio líder sênior do estudo, Bendikt Berninger, da Universidade Johannes Gutenberg da Mongúcia, na Alemanha, é cauteloso. “Dada a severidade das lesões cerebrais, ainda estamos muito longe de usar essa abordagem para terapia, é necessário muito mais pesquisa básica”, diz. “Mas o campo é tão dinâmico que é impossível prever quando ou se essa abordagem vai chegar à clínica.”

Ligação desafiadora

Um dos grandes obstáculos que precisam ser transpostos antes que a pesquisa gere um possível tratamento é entender por que a conversão ocorre. “Nesse estudo, a conversão só ocorreu quando houve a lesão, então é preciso entender o que na lesão desencadeia essa transformação”, comenta Abreu.
Neurônios
Próximo à região da lesão, mais neurônios se formaram. No entanto, apenas dois de 17 eram plenamente funcionais. (imagem: Heinrich et al/ Cell Reports)
Outro desafio é melhorar a capacidade da técnica. Na pesquisa, os cientistas observaram, no camundongo com o melhor desempenho, o surgimento de 17 neurônios originados das células gliais infectadas. Mas apenas dois passaram nos testes que os caracterizam como totalmente funcionais. Ou seja, os neurônios foram criados, mas nem todos funcionaram como deveriam, por exemplo, estabelecendo ligações.
O neurocientista Marcos Romualdo da Costa, pesquisador do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que já colaborou diretamente com Berninger em outros estudos, afirma que, em testes in vitro, os cientistas têm obtido melhores resultados. 
In vitro mais células se transformam em neurônios, sobrevivem por mais tempo e são mais maduras”, aponta. “Um gargalo que precisa ser resolvido é entender o que no cérebro limita esse resultado e também conseguir gerar neurônios que se integrem ao conjunto de circuitos cerebrais e estabeleçam conexões. Quando conseguirmos isso, aí sim estaremos mais próximos de uma aplicação.”

Sofia MoutinhoCiência Hoje On-line

sábado, 22 de novembro de 2014

2014, uma odisseia no espaço-tempo

http://cienciahoje.uol.com.br/blogues/bussola/2014/11/2014-uma-odisseia-no-espaco-tempo

2014, uma odisseia no espaço-tempo

‘Interestellar’, superprodução que está nos cinemas, explora os limites da ciência para acompanhar a epopeia da humanidade em busca de um novo lar.
2014, uma odisseia no espaço-tempo
Uma ficção com profundas bases científicas, ‘Interestellar’ usa e abusa das especulações para nos conduzir por uma épica e ambiciosa viagem pelo cosmos – em geral, bem-sucedida. (foto: divulgação)
Será possível que a humanidade pressione de forma tão dramática os recursos naturais de nosso planeta que seja necessário que nos lancemos numa busca desesperada por um novo lar em meio às estrelas, para escapar da exaustão da Terra? Essa é a premissa de Interestellar, filme do diretor Christopher Nolan (da trilogia Batman A Origem) que estreou no Brasil na semana passada. Verdadeiro mergulho nas ciências cósmicas e na teoria da relatividade, a produção explora e entrelaça conceitos científicos de forma instigante e, se não chega a se comparar aos clássicos do gênero, é uma das películas de ficção científica mais interessantes dos últimos tempos.
Verdadeiro mergulho nas ciências cósmicas e na teoria da relatividade, a produção explora e entrelaça conceitos científicos de forma instigante
O mais pretensioso filme do diretor mostra um futuro não muito distante, em que levamos nossos recursos naturais ao esgotamento. Cooper (Matthew McConaughey) é um engenheiro e ex-piloto que se tornou agricultor – naquele tempo, todos eram agricultores – e cuida de sua fazenda e dos filhos. Ao estudar um estranho fenômeno gravitacional, ele acaba chegando a uma base da agência espacial americana, a Nasa, que agora opera em segredo, já que a opinião pública a respeito dessa área é tão negativa que se ensina na escola que as missões Apollo foram uma farsa para levar os soviéticos à bancarrota.
Lá, ele descobre que a situação está pior do que imaginava e que a única esperança da humanidade é abandonar a Terra. A Nasa, inclusive, já selecionou mundos que poderiam ser propícios à vida humana e pede a Cooper que pilote a missão decisiva que deverá explorar os melhores candidatos e voltar antes que seja tarde demais para salvar o dia. Ele parte, então, por meio de um misterioso buraco de minhoca (ou ponte de Einstein-Rosen, estrutura hipotética que funciona como um atalho no espaço-tempo para alcançar galáxias distantes), para estudar planetas próximos de um buraco negro em outro canto do universo.

Especulação científica

Interestellar é ciência e, principalmente, especulação do início ao fim. É interessante como aborda a passagem do tempo e o paradoxo dos gêmeos e também a maneira como explora o ecossistema dos planetas estudados – a cena do tsunami em um deles é uma das melhores do filme. Por outro lado, Nolan oscila entre extremos: peca tanto pelo excesso de didatismo quanto pela total falta de explicações. Boa mostra disso é que o filme foi criticado por suas especulações, mas também recebeu boas avaliações pela forma como apresentou, por exemplo, fenômenos como o buraco de minhoca, o buraco negro e a própria força da gravidade – prova de que mostrar é melhor do que falar.
Buraco negro
A produção foi muito elogiada por diversos cientistas por trazer representações fiéis de diversos fenômenos, como buracos negros. (foto: divulgação)
O próprio Nolan se defendeu dos críticos, classificando a ciência de Interestellar como deliberadamente especulativa. Vale destacar que a produção contou com a consultoria do famoso físico teórico Kip Thorne, que defendeu as raízes científicas da produção. Leia aquiaqui e aqui alguns pontos interessantes sobre a ciência de Interestellar.
O processo de decadência do planeta é apenas sugerido, cabe ao espectador imaginá-lo em detalhes fazendo um paralelo sinistro com a situação atual da Terra
Além dessa ciência mais ‘dura’, o filme também levanta outras discussões científicas bem atuais, que servem mais como pano de fundo. Por exemplo, diante da situação clandestina da Nasa, é difícil não pensar no lugar da exploração espacial num mundo à beira do colapso: seria mais ou menos importante? E até que ponto deve-se modificar a história em prol de novas perspectivas sociais, por exemplo, para valorizar a formação de fazendeiros, mais importantes do que engenheiros no mundo de Cooper? O próprio processo de decadência do planeta é apenas sugerido, cabe ao espectador imaginá-lo em detalhes fazendo um paralelo sinistro com a situação atual da Terra.
Chamam a atenção, ainda, algumas felizes escolhas do diretor. O falso documentário do início funciona bem e contextualiza o mundo em decadência. A exploração dos silêncios, assim como em Gravidade, é deslumbrante (mas poderia ser mais utilizada). Já a abordagem do amor como uma força que ultrapassa o espaço-tempo é cafoninha, mas interessante, e ainda ajuda a tentar entender o final.
Nenhuma atuação chega a roubar a cena, mas também não compromete – a curta passagem de Matt Damon (Dr. Mann) gera alguns dos melhores momentos do filme. Mesmo assim, um dos maiores problemas de Interestellar é a pouca profundidade da relação entre os personagens. O curioso é que as interações mais humanas (engraçadas, tocantes, sarcásticas) se dão com os robôs que acompanham a aventura – talvez um questionamento sobre as relações homem-máquina, talvez não.
Pai e filha
A relação entre Cooper e a sua jovem filha Murphy é uma das mais bem construídas do filme, um amor e uma ligação tão fortes que nem o espaço-tempo pôde separar. (foto: divulgação)


Buracos de minhoca – e de roteiro

Embora interessante, a trama tem lá seus furos – se não quiser saber detalhes, melhor pular para o último parágrafo e evitar spoilers. Prontos? Então vamos lá: em teoria, o professor Brand (Michael Caine) buscou por décadas uma forma de evacuar a Terra. Convencido da impossibilidade disso, no entanto, seu plano era salvar um pequeno grupo e um amplo banco genético humano para preservar a espécie, não quem vivia por aqui. Seria possível ninguém ter percebido seus intentos? Ele trabalhou sozinho o tempo todo? Considerando que atualmente boa parte da ciência busca ser cada vez mais aberta e colaborativa, o dissimulado insucesso de Brand parece anacrônico.
Outro ponto estranho é o ‘patriotismo’: se hoje a exploração espacial já tem se tornado mais e mais internacional e o objetivo do filme é salvar a raça humana, é estranho ver apenas bandeiras norte-americanas nas bases dos planetas candidatos a ‘nova Terra’. Tudo bem, a Nasa pode ter sido a única agência a permanecer ativa, mas não teria buscado todos os melhores pesquisadores do mundo que restassem?
Interestellar pode não se igualar a obras cânones do gênero, como 2001, mas sem dúvida é uma das melhores ficções científicas recentes
Quando Cooper é levado ao tesserac, estrutura hipotética de cinco dimensões que permite se deslocar pelo tempo, o filme também envereda pelos paradoxos. O buraco de minhoca e o próprio tesserac parecem ter sido criados por humanos do futuro, uma humanidade muito além das três dimensões, que interfere no passado para salvar-nos (e a si mesmos) de um planeta em colapso – paradoxo clássico da ficção científica, que ainda aparece outras vezes no filme e para o qual não há respostas definitivas: será possível voltar ao passado e modificá-lo?
Há outras questões: como Cooper consegue interagir com o campo gravitacional para mandar mensagens? E como usou o simples código Morse para transmitir dados coletados no buraco negro? Questões complexas, que talvez nosso limitado entendimento não permita responder. Aliás, a leitura do livro do próprio Kip Thornesobre o que é ciência e o que é especulação em Interestellar pode ajudar a esclarecê-las (ou não, muito pelo contrário).
No fim, Interestellar pode não se igualar a obras cânones do gênero, como 2001, mas sem dúvida é uma das melhores ficções científicas recentes. A mistura de especulação e ciência, embora sofra com o excesso de didatismo, dá asas à imaginação dos apaixonados pelos mistérios do cosmos – e até os questionamentos que levanta servem de combustível para horas e horas de prazerosa discussão. Diante de tantas hipóteses e possibilidades, só nos resta ‘orar’: futuros humanos, de onde quer que vocês estejam no espaço-tempo, olhai por nós e por nosso pequeno planetinha azul.

Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line

Corte de emissões por EUA e China: pouco e tarde

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Corte de emissões por EUA e China: pouco e tarde

No embalo do acordo firmado pelos governos norte-americano e chinês para reduzir efeitos de gases-estufa, Jean Remy Guimarães lembra problemas crônicos em terras brasileiras, como desmatamento, poluição, caos e mortes no trânsito.
Por: Jean Remy Davée Guimarães
Publicado em 21/11/2014 | Atualizado em 21/11/2014
Corte de emissões por EUA e China: pouco e tarde
China e Estados Unidos selam acordo para reduzir emissão de gases de efeito estufa. Os dois países são responsáveis por 45% desses gases lançados pelo homem na atmosfera. (foto: AP Photo/ Pablo Martinez Monsivais – CC BY-ND 2.0)
No último dia 12, os presidentes Barack Obama e Xi Jinping assinaram em Pequim um acordo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEFs) em seus respectivos países.
Como até agora a China ainda não havia se comprometido com metas de redução, o acordo é digno de nota. Cabe destacar também o anúncio conjunto de metas voluntárias de redução por parte de dois países que, juntos, emitem cerca de 45% dos GEFs que a humanidade injeta na atmosfera. O acordo prevê o corte de 26% a 28% das emissões até 2025 pelos Estados Unidos.
Já os chineses se comprometem a cortar as emissões até 2030, embora possam começar antes. Em outras palavras, seu pico de emissão ocorrerá em 2030, ou antes, o que significa que as emissões seguirão crescendo até lá. Ah, mas quando 2030 chegar, 20% das fontes energéticas chinesas serão renováveis! Já o bloco europeu se comprometeu no mês passado a cortar 40% de suas emissões até 2030, tomando por base as emissões de 1990.
Comemorar que as emissões chinesas serão reduzidas apenas a partir de 2030? Sei não... Parece pouca esmola para o tamanho dos milagres necessários
Acordo histórico entre os dois maiores poluidores, voluntário, informal, anunciado um ano antes da próxima conferência do clima, etc. Ótimo. Mas comemorar que as emissões chinesas serão reduzidas apenas a partir de 2030? Sei não... Parece pouca esmola para o tamanho dos milagres necessários.
Serão 16 longos anos de espera pela frente, vendo o mar subir, as últimas geleiras derreterem, as torneiras secarem e o fluxo de refugiados ambientais aumentar, assim como os preços de água, alimentos, energia e sossego.
Como toda moeda, o acordo tem duas faces. Pode servir de exemplo virtuoso (cortemos já!) ou de exemplo esperto (também cortarei, juro, mas como a China, só mais adiante).
Tudo bem, o padrão de extremos climáticos, escassez e incerteza crescente talvez force, dolorosamente, a revisão das metas de corte, para cima. Vocês que me leem regularmente nesta coluna sabem: sou um otimista incurável.

Cá entre nós

Enquanto isso, o Brasil preferiu não comentar. Fez bem, pois o momento não é dos melhores para chamar a atenção externa sobre nossas emissões. Divulgou-se com destaque o inventário brasileiro de emissões para o período 2004-2012, mostrando redução de 52% em relação ao que emitíamos em 2004, devido principalmente à redução do desmatamento na Amazônia no período.
Ouvi do Ipiranga as margens plácidas etc. Fogos (melhor não, nessa secura), canapés e... Chega, porque essa glória faz parte do passado, e o presente não é propício a celebrações.
Após o período do inventário, aprovou-se um código florestal (sic) na exata contramão do beabá da sustentabilidade e razoabilidade. Perdão para desmatamento passado, facilidades para desmatamento futuro e, cereja no sundae, redução das faixas de proteção de cursos d’água.
Área desmatada
Área desmatada na Amazônia brasileira. De acordo com a organização não governamental Imazon, o desmatamento na região aumentou mais de 200% de maio a setembro deste ano. (foto: Ana Cotta/ Flickr – CC BY 2.0)
As margens plácidas do Ipiranga e de todos os nossos rios ficarão assim mais expostas ainda a assoreamento e erosão, e o ciclo da água, já bem comprometido, ficará mais ainda. Profecia funesta? Quem dera! O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) calcula que apenas de maio a setembro deste ano o desmatamento aumentou 214%. Já o ciclo da água... Deixa pra lá.

Poluição e (i)mobilidade urbana

Preso no permanente engarrafamento, me pergunto se o crescimento das emissões veiculares, que cresce à medida que cai a velocidade do trânsito no caos da imobilidade urbana, foi considerado na planilha do inventário.
Considerado ou não, todos os sinais vão no sentido da piora: nova isenção de IPI para automóveis, mais subsídio para petróleo e gás, priorização do transporte individual, corrupção e ineficiência sistêmicas nos sistemas de transporte urbano, timidez exasperante no estímulo à energia limpa (eólica, solar, nuclear e das marés) e nas campanhas pela eficiência e contra o desperdício.
Cerca de 75% dos leitos das UTIs de nossos hospitais públicos são permanentemente ocupados por motociclistas, assim como os serviços de fisioterapia
Sem esquecer as usinas térmicas a gás, que estão a mil para compensar represas à míngua, e o crescimento expressivo da presença do carvão em nossa matriz energética. Sim, o carvão, o combustível mais sujo e – depois da lenha – mais antigo que conhecemos. Desconfio que o próximo inventário de emissões talvez seja menos ufanista. Mas no momento já temos fartas evidências para profunda reflexão.
Senão, vejamos: na falta de soluções coletivas, parte-se para a solução individual. Um exemplo é a explosão do número de motocicletas no país. Resultado? Cerca de 75% dos leitos das UTIs de nossos hospitais públicos são permanentemente ocupados por motociclistas, assim como os serviços de fisioterapia.
Os custos são enormes: prejuízos materiais, custos de sepultamento ou tratamento e (longa) reabilitação, perda do investimento social em educação e saúde até o acidente e perda da capacidade produtiva da vítima a partir do acidente.
Sem falar no noivado que se desmanchou, no bebezão lindo que não nasceu e naquela viagem a Gramado que não vai rolar. Não tem preço. Mas tem custos, que sempre acabam gerando consequências ‘monetarizáveis’, se alguém se der ao trabalho de olhar direito.
Motociclista
Nas grandes cidades brasileiras, a emissão de gases produzidos pela queima de combustível fóssil aumenta, à medida que a velocidade do trânsito cai. Além disso, cresce o número de motocicletas e de acidentes com motociclistas. (foto: João Perdigão/ Flickr – CC BY-NC 2.0)
Ok, o trânsito mata. Grande novidade! Mas quem transita? Veículos individuais, movidos a combustíveis inflamáveis e explosivos, que andam em sentidos, direções e velocidades que são deixados ao arbítrio de seres humanos geralmente masculinos e desacompanhados, em vias sem divisórias. É obvio que não podia dar certo.

Nananinanão!

Ora, direis, mas com toda essa testosterona automotiva, até um mundo de carros elétricos teria um trânsito assassino. Nananinanão! Primeiro, as batidas não gerariam explosões, incêndios, corpos calcinados e outras alegrias hollywoodianas.
Muito mais importante que isso, vamos lá, pense um pouquinho... Não haveria barulho? Ok, muito menos, com certeza, mas ainda não é isso. Não haveria emissões de GEFs? É verdade, seriam mínimas, o que é ótimo para o clima. Está esquentando... Ãh, deixa ver... As cidades, onde vivem quase 80% dos terráqueos, deixariam de ser ilhas de calor fedorento e sufocante, enxergaríamos o horizonte e não haveria mais piche na areia da praia? Está quase: você disse “ar sufocante”.
Atualmente, a poluição do ar, devida ao trânsito caótico movido a petróleo, mata mais do que os acidentes, causas mais óbvias e espetaculosas do trânsito
Pois é, não é força de expressão: atualmente, a poluição do ar, devida ao trânsito caótico movido a petróleo, mata mais do que os acidentes, causas mais óbvias e espetaculosas do trânsito. Acidentes envolvem quem transita e quem não sai da frente; já o ar poluído provoca morbi-mortalidade em todos os que respiram.
É muita gente, e muito bicho. E também afeta plantas, musgos, liquens; estraga a pele, o cabelo, a pintura do carro (bem feito), as esculturas do Aleijadinho e a única fotografia do seu bisavô.
Quer números? Você pediu. Segundo o Instituto Saúde e Sustentabilidade, ligado à Universidade de São Paulo, os acidentes de trânsito no estado do Rio de Janeiro fizeram 3.044 vítimas fatais em 2011, enquanto as mortes atribuídas à poluição chegaram a 4.566. Em São Paulo, a estimativa para o mesmo ano é de que a poluição causou o dobro de mortes (15.700) em comparação com o trânsito (7.867).
E assim voltamos aos céus cinzentos da China. Até a data prevista para que o país comece a reduzir suas emissões, 2030, o Instituto Saúde e Sustentabilidade calcula que a poluição matará, em São Paulo, cerca de 256 mil pessoas. Quantas matará no Brasil todo, nos Estados Unidos, na China?
– Alô, Obama, Xi Jinping, Dilma?
Hi... caiu.

Jean Remy Davée Guimarães
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho
Universidade Federal do Rio de Janeiro