Cães foram domesticados duas vezes em regiões distintas, diz estudo
Cães foram domesticados duas vezes em regiões distintas, diz estudo
Uma combinação de dados arqueológicos com novos estudos de material genético indica que de fato o cão é o melhor amigo do homem: ele teria sido domesticado não apenas uma vez, mas duas vezes em regiões distintas do planeta.
A relação entre cães e humanos vêm de longa data. O estudo comparou DNA de cães europeus que viveram entre 14.000 a 3.000 anos atrás, e decifrou o genoma de um deles em particular, que viveu em Newgrange, um sítio arqueológico na Irlanda, há 4.800 anos.
A comparação também envolveu genomas de lobos –o ancestral dos cães– e cachorros modernos, tanto da Eurásia ocidental como do leste da Ásia. O material genético de 605 cães modernos de 48 raças de todo o mundo foi vasculhado
O estudo foi feito pela equipe chefiada por Laurent A. F. Frantz e Greger Larson, da Universidade Oxford, Reino Unido, e Daniel G. Bradley, do Trinity College Dublin, Irlanda, e está publicado na edição de hoje da revista científica americana "Science".
Como o lobo é comum na Eurásia –o megacontinente reunindo Europa e Ásia–, existem evidências de que sua domesticação poderia ter acontecido na Europa, na Ásia central, ou no seu extremo oriente.
Os resultados indicaram a possibilidade de duas domesticações caninas na pré-história.
Os autores do estudo apresentaram a hipótese de que "duas populações de lobos geneticamente diferenciados e potencialmente extintos na Eurásia do leste e do oeste podem ter sido independentemente domesticados antes do advento da agricultura assentada. A população oriental então se dispersou para oeste junto com os humanos em algum momento entre 6.400 a 14.000 anos atrás, para a Europa Ocidental, onde eles
parcialmente substituíram uma população paleolítica de cães indígena", escrevem os autores na "Science".
Fósseis de cão achados na Alemanha podem ter 16.000 anos, indicando que já se domesticava o cão na Europa antes da chegada de seus primos asiáticos.
A enorme variedade de raças caninas tende a ofuscar essa divisão entre animais da Europa e Ásia, pois muitos são parecidos. Mas os dados genéticos mostram que um pastor alemão ou um cocker spaniel inglês são primos bem distantes de raças asiáticas como o Shar Pei ou o mastim tibetano. Já raças como o Samoyeda e o Husky siberiano mostram uma mistura dos genes "europeus" e "asiáticos".
"A variação no tamanho, forma e cor do cão é surpreendente, e é um testemunho do poder da seleção. Desde que os humanos realmente enlouqueceram assumindo um controle extremo da criação de cães e selecionando para características estéticas, a variação nos cães é um reflexo do nosso fascínio com a novidade e aparências extremas. Mas é realmente apenas a seleção", disse um dos autores, Larson, para a Folha.
"Eu não tenho um cachorro agora, mas cresci com um doberman pinscher, um afghan, e um mastim inglês, e meus pais hoje têm um pug. Eu sou fã de todos cachorros (ou pelo menos da maioria) e particularmente gosto dos grandalhões preguiçosos e desajeitados", afirma o pesquisador.
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