segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Como ensinar evolução aos pequenos?

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Como ensinar evolução aos pequenos?

Para assegurar um bom aprendizado de conceitos como adaptação e seleção natural, é necessário usar estratégias adequadas à faixa etária em questão, privilegiando a brincadeira e a experimentação.
Por: Vera Rita da Costa
Publicado em 21/08/2014 | Atualizado em 21/08/2014
Como ensinar evolução aos pequenos?
Noções como diversidade biológica e competição entre espécies podem ser introduzidas nos primeiros anos escolares de forma lúdica. (foto: Alicia Ivanissevich)
Como já tivemos oportunidade de discutir aqui, pesquisas recentes têm demonstrado a possibilidade (e a oportunidade) de se ensinar, ainda na infância, ideias e conceitos tradicionalmente tidos como complexos e difíceis. Entre eles, os conceitos de adaptação e seleção natural, essenciais à correta compreensão da teoria da evolução biológica.  
A infância é marcada pela curiosidade ou pelo prazer associado à descoberta do novo
Mas para que essa aprendizagem realmente aconteça e seja eficaz, é necessário escolher estratégias que sejam adequadas à faixa etária com que se está lidando. Em outras palavras, é preciso buscar metodologias e selecionar recursos que se valham de algumas características essenciais da idade em questão.
A infância é marcada pela curiosidade ou pelo prazer associado à descoberta do novo. Por meio da experimentação e do brincar, a criança explora o mundo físico e social e aprende com ele. Nada melhor, portanto, do que buscar associar as aprendizagens desejáveis a essas características próprias da idade, recorrendo às atividades de caráter lúdico, como jogos e brincadeiras.

Dicas de recursos interessantes

Por isso, nossa dica desta semana diz respeito a alguns recursos interessantes que ajudam a introduzir conceitos e a aproximar as crianças das ideias de adaptação e seleção natural, bases de sustentação da teoria da evolução biológica. 
O primeiro deles é o curta-metragem Evolução, produzido pelo estudante de animação da Universidade de Virginia (EUA) Tyler Rhodes, para o festival Anima Mundi, na edição 2012.  
No projeto, Rhodes utilizou desenhos de giz de cera e lápis feito por crianças (entre 5 e 12 anos) como base para elaborar o roteiro e as imagens de um filme de animação. 
Para obter os desenhos, o autor orientou as crianças a desenhar suas próprias espécies de salamandras e a imaginar o que aconteceria com elas ao longo do tempo e de várias gerações, caso fossem submetidas a diferentes condições ambientais (desertos e florestas) e diante de mudanças ambientais drásticas.

Confira o resultado no próprio vídeo


Muito simples em sua realização, o vídeo Evolução pode servir para motivar uma conversa, uma ‘leitura’ mais atenta e interpretativa das imagens produzidas por outras crianças e até para animar uma discussão com os pequenos. Mas, pensando um pouco além, pode também ser útil como motivação para que crianças e professores realizem suas próprias produções, com base nas conversas e ideias que estejam travando sobre adaptação, seleção natural e evolução. Para isso, claro, são necessários recursos tecnológicos mínimos. Basta um celular com recurso de filmagem e um programa simples de edição de vídeo, como os já disponíveis na maioria dos computadores. 
O segundo recurso que queremos indicar é também um vídeo de animação, Nós os fantásticos seres vivos – uma breve história sobre evolução, coprodução dos setores de divulgação científica dos institutos Gulbenkian de Ciência (IGC)  e de Tecnologia Química e Biológica (ITQB) , de Portugal – duas instituições que têm tradição em divulgação e ensino de ciências e cuja produção nessas áreas – sobretudo se você é professor de ciências –, vale muito a pena conhecer e acompanhar.
Em razão disso, nossa indicação é que você acesse o vídeo indicado por meio da Casa das Ciências (o portal do Instituto Gulbenkian voltado aos professores), onde é necessário cadastrar-se para assisti-lo. É possível também encontrar muitos outrosrecursos didáticos associados a ele, alguns dos quais bem interessantes. 
Outra opção, mais simples e rápida, caso seu interesse seja apenas conhecer e avaliar o vídeo para um possível uso com seus alunos, é assistir ao vídeo no YouTube, onde também está disponível.

Assista ao vídeo sobre seres vivos



Assim como o anterior, este vídeo aborda, também em linguagem e imagens adaptadas, as noções mais fundamentais que sustentam a ideia de evolução biológica. Entre elas, as de adaptação, seleção natural, ancestral comum e parentesco entre todos os seres do planeta. Também apresenta e discute os processos de formação de novas espécies, essenciais para compreender a atual diversidade de seres vivos no planeta. 
Como recurso didático, o vídeo pode também servir para motivar uma conversa ou reforçar ideias ou conceitos desejados. Mas, por explorar mais informações e conceitos que o indicado antes, talvez seja melhor usá-lo com crianças mais velhas, a partir do 5º ano do ensino fundamental.

Sugestão de livros 

Como uma terceira indicação de recursos didáticos para se abordar os princípios que regem a teoria da evolução biológica com crianças e jovens, deixamos registrados dois livros especiais. 
O primeiro deles é  A magia da realidade – como sabemos o que é verdade (Cia. das letras, 2011), de Richard Dawkins, livro que deveria estar na cabeceira de qualquer professor de ciências. O segundo é ‘prata da casa’: o volume Evolução da coleção Ciência Hoje na Escola (Instituto Ciência Hoje, 2001), também imprescindível. 
Livros Evolução
Estes dois livros são ótimas indicações para abordar com as crianças e os jovens os princípios que regem a teoria da evolução. (fotos: Divulgação)
Em A magia da realidade – como sabemos o que é verdade, Dawkins promove um passeio pelos mais importantes temas de fronteira, ou mesmo polêmicos, das ciências naturais (entre os quais, a evolução), mas o faz de maneira um tanto diferente do que é tradição em livros de divulgação ou literatura científica para crianças. 
Como revela o subtítulo da obra, a prioridade está em apresentar os argumentos que sustentam as ideias científicas e diferenciá-los daqueles que sustentam as ideias de senso comum, os mitos, as lendas e os dogmas. 
Em relação à ideia de evolução, por exemplo, Dawkins conduz o leitor e o faz perceber que existem diferentes visões, embasadas em diversos tipos de argumentos. Quais desses argumentos são reais? Quais são imaginários? Quais deles são verificáveis? Quais são de ordem sobrenatural? Quais as regras que permitem aceitar um argumento como científico? 
Ao não se limitar apenas a informar, mas ao tratar de maneira muito didática essas questões, Dawkins acaba também introduzindo seus leitores na forma de pensar e agir da ciência. Com exemplos, mostra que a ciência é muito mais do que o conhecimento ou o saber acumulado e instituído. É também um modo de pensar e agir diante do que nos espanta e causa admiração no mundo. 
Já o volume Evolução da coleção Ciência Hoje na Escola traz uma coletânea de artigos produzidos por pesquisadores brasileiros sobre os mais importantes conceitos relacionados à teoria da evolução biológica, assim como sobre os aspectos sociais, éticos, políticos e religiosos envolvidos com ela.
Quando o livro Evolução foi concebido, em 2001, pouco ou nada se falava sobre ensinar evolução às crianças
Quando se fala em ‘coletânea de artigos’, pode-se gerar certa desconfiança da parte dos professores e alunos: parece algo chato, não é mesmo? Não é o caso. QuandoEvolução foi concebido, em 2001, pouco ou nada se falava sobre ensinar evolução às crianças. A ideia foi, portanto, justamente incentivar a abordagem do assunto e, para isso, tornar disponível aos professores um material de qualidade, como linguagem e imagens adaptadas, para uso diretamente com alunos. Nada difícil. 
Também houve a preocupação de se incluir nesse volume de Ciência Hoje na Escola sugestões de atividades a serem realizadas com os alunos, de forma a tornar ainda mais concreta e prazerosa a aprendizagem do tema.
Quando Evolução foi feito, a ideia já era essa; e continua a mesma: tornar a teoria da evolução biológica mais conhecida e menos estigmatizada.
Vera Rita da Costa
Ciência Hoje/ SP

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