terça-feira, 9 de setembro de 2014

O amor é mais complexo que uma simples molécula

http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/nao_ha_hormonio_do_amor.html

O amor é mais complexo que uma simples molécula

Estudos mostram que oxitocina, popularizada como molécula do amor, tem efeitos contraditórios



                                                                                 MindZiper/Wikipedia

Molécula de oxitocina


Por Gary Stix


Uma substância bioquímica produzida no cérebro, chamado de oxitocina, entrou na cultura popular nos últimos anos como sendo o hormônio do “amor”, do “carinho” ou da “união”. São várias opções.

A oxitocina ajuda nas contrações durante o parto e auxilia na lactação, mas já sabemos disso há mais de um século. Experimento realizados nos anos 90 mostraram que o hormônio era fundamental para fazer arganazes-do-campo, conhecidos por seu comportamento monogâmico, escolherem um parceiro vitalício. Estudos posteriores demonstraram que a substância química contribui para a confiança e para as interações sociais de vários animais, incluindo humanos.

Depois do estudo com os arganazes, o interesse sobre esse peptídeo com nove aminoácidos aumentou. Em uma palestra no TED, o economista Paul Zak chamou a oxitocina de “molécula da moral” devido à sua conexão com a confiança, empatia e prosperidade.

Então o mercado de maquiagem cerebral da internet adotou o meme. O Vero Labs de Daytona Beach, na Flórida, vende o “Connekt”, um spray de oxitocina por US$79 que se propõe a “fortalecer conexões no ambiente de trabalho” e “aumentar a autoimagem positiva”. A empresa também lançou o “Attrakt”, um spray que mistura oxitocina com feromônios – compostos químicos relacionados à atração sexual que ajudam a deixar ratos no clima, mas que têm seu papel em disparar o comportamento reprodutivo em humanos fervorosamente debatido. (Pesquisadores que estudam a oxitocina alertam possíveis compradores desses produtos que seu uso de longo prazo por humanos ainda não foi estudado).

Mas nem tudo é propaganda e placebo. Um número considerável de pesquisas sugere que a oxitocina – e uma molécula relacionada a ela, chamada de vasopressina – promove vários tipos de comportamento social. Participantes de um estudo que envolvia um jogo de investimento enviaram mais dinheiro a um banqueiro de investimentos após sentirem o cheiro da substância. Níveis de oxitocina se elevaram em um estudo com novos pais e mães enquanto eles se acostumavam a viver com seus recém-nascidos. E, atualmente, existem testes em andamento para avaliar se um spray de oxitocina pode ajudar a aliviar alguns dos déficits sociais de jovens diagnosticados com autismo.

A oxitocina tem outro lado que a torna algo menos que uma Poção do Amor Nº 9. Pesquisas recentes mostram que ela pode intensificar lembranças negativas de uma experiência social – como a imagem de seu chefe gritando com você diante de seus colegas de trabalho. Ela pode até mesmo aumentar a probabilidade de agressão e violência contra indivíduos que não fazem parte de seu grupo social.

Não há dúvidas de que a oxitocina tem influência sobre relações sociais, mas seu efeito pode ser altamente dependente das circunstâncias. A publicação Science Watch, da American Psychological Association, divulgou duas ótimas declarações alertando que não se pode atribuir à oxitocina um papel definitivo sobre as relações sociais:

“A oxitocina não é o hormônio do amor”, declara Larry Young da Emory University. “Ela nos sintoniza com informações sociais e nos permite analisá-las em contexto mais amplo”.

E de Shelley Taylor, da University of California, Los Angeles: “Nunca é uma boa ideia mapear um perfil psicológico com base em hormônios; eles não têm perfis psicológicos”.

Isso significa que pode levar algum tempo até produzirmos o sentimento do amor com uma fungada em um inalador – melhor ficar com o Cabernet e com o espumante.

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